INTRODUÇÃO
O divertículo intraluminal do duodeno é anomalia congênita em sua origem, provavelmente uma forma de duplicação. Somente em 1968 foi relatado por Newman e Nathan um caso com diagnóstico radiológico pré-operatório, em criança(1). A maioria dos casos é achado de autópsia e de material cirúrgico(2-4). É anomalia pouco freqüente, com poucos casos relatados na literatura médica(5). Sinais clínicos e sintomas podem estar ausentes ou ser de pouca intensidade, ou ser os de obstrução intermitente. É causa pouco comum de obstrução duodenal(6). A anomalia consiste em uma formação em "fundo de saco", revestida de ambos os lados por mucosa normal, projetando-se na luz do duodeno(7).
Por ser o duodeno a sede menos freqüente de duplicação do trato alimentar, e em decorrência dos vários tipos de duplicação, o diagnóstico operatório é o mais freqüente(8-10).
O diagnóstico radiológico é feito quando o diafragma duodenal redundante e frouxo forma um fundo de saco que, distendendo-se como um balão, comprime a parede e provoca, secundariamente, uma obstrução parcial. O bolo alimentar é impelido pelo peristaltismo através do óstio ou abertura do diafragma lateral ou terminal e assim acarreta relativo distúrbio funcional(11-13). Em conseqüência, sintomas obstrutivos podem estar ausentes na infância e só vierem a ocorrer na fase adulta, quando o divertículo poderá, pelo aumento de tamanho, ocasionar sintomas dispépticos incaracterísticos, sendo o achado radiológico quase sempre acidental.
RELATO DO CASO
Paciente do sexo feminino, 44 anos de idade, melanodérmica, natural de Campina Grande, PB. A paciente foi encaminhada para exame radiológico do esôfago, estômago e duodeno, sem qualquer outra menção no pedido de exame.
Relatava a paciente que há vários anos vinha apresentando, ocasionalmente, sintomas dispépticos variados de curta duração, com sensação de distensão do estômago, empachamento pós-prandial, com dor na "boca do estômago", e às vezes regurgitações, principalmente após a ingestão de farináceos. Não relatava emagrecimento, falta de apetite ou outra alteração.
Ao exame radiológico verificou-se a existência de nítida hérnia do hiato diafragmático. O esvaziamento gástrico iniciou-se em tempo normal. Entretanto, observou-se que o meio de contraste baritado, após atingir a parte média do duodeno, encontrou um obstáculo em fundo de saco, com a presença de intenso peristaltismo de luta. Após permanecer a paciente em decúbito lateral direito e em oblíqua anterior direita por cerca de 30 minutos, o meio de contraste passou por fora da imagem citada, mostrando um outro relevo mucoso, e atingiu assim o duodeno distal e o jejuno proximal, que apresentavam calibre e relevo mucoso regulares.
À observação radioscópica, com intensificador de imagem e circuito de TV, fizemos o diagnóstico e passamos a documentar os achados.
A paciente foi encaminhada ao clínico, com o diagnóstico de divertículo intraluminal do duodeno, e, posteriormente, submetida a intervenção cirúrgica. Segundo o relatório do cirurgião, o duodeno mostrava-se moderadamente dilatado nas suas porções proximais. Feita a abertura do duodeno e aspiração do conteúdo, verificou-se a presença de uma formação do tipo diafragma, com abertura lateral junto à parede medial e com mucosa nas duas faces. Foi então feita ressecção circular em toda a extensão, com retirada completa do diafragma e do saco diverticular.
Cerca de um mês após a cirurgia, a paciente foi reexaminada por nós, quando então verificamos o desaparecimento da imagem anteriormente encontrada, e o trânsito, o relevo mucoso e o calibre do duodeno estavam normais.
DISCUSSÃO
Do ponto de vista anatomopatológico, é certo tratar-se de uma anomalia congênita. Embriologicamente, a teoria da duplicação é igualmente aplicável para explicar a formação do divertículo intraluminal do duodeno. Esta anomalia é considerada mais uma duplicação do que a formação de um diafragma incompleto distorcido. É de interesse notar que apenas um caso relatado na literatura foi diagnosticado unicamente pelo exame baritado convencional e tratava-se de uma criança.
Entretanto, verifica-se que, em alguns casos, os sintomas iniciaram-se na infância. Nos casos não complicados o diagnóstico radiológico não apresenta dificuldade. O divertículo intraluminal cheio de meio de contraste, nas várias incidências, apresenta-se como uma formação em "fundo de saco" dentro da luz duodenal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário